De que vale uma oliveira?

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Categoria: Notícias
Publicado em Terça, 15 Julho 2014 Escrito por SDEC

Durante boa parte da minha vida tive a coisa bem clara: quem tem poder, define o destino. Esta ideia é facilmente justificada no nosso quotidiano. Esta convicção base não cresceu desacompanhada, outras convicções andaram por lá. Contudo, quando aquela ideia foi destronada, não o foi por uma argumentação elegante, mas pela própria realidade: olhei em volta e vi que a prática não pagava o que prometia. Olhei em volta e vi prisioneiros.

Aquela convicção baseada em poder forjou a minha identidade, e está presente no meu pensar e no meu agir. É biográfica, faz parte da minha história, deixou sua marca e tem o seu peso. E ao ver homens a plantar uma oliveira reajo mal dizendo ‘publicidade’, ‘truque’, ‘número’. Afinal, de que vale uma oliveira? De que vale uma oliveira perante tanto sofrimento, desencontro e desagravo? E de que vale tanto conflito, discussão e muro? O que já trouxe de bom?

Durante uma tarde cessaram razões e argumentos. Homens lançarem-se a uma tarefa simples, a de plantar uma árvore que para as suas culturas é sinal de durabilidade e paz. Talvez mais não nos seja pedido: em vez de planos geniais, brilhantemente delineados que o primeiro contratempo derrotará, porque não sentar-me todos os dias, pedir paz, e fazer alguma coisa simples com o tipo do outro lado do muro?

Hoje, a minha convicção fundante é outra: na ridícula medida em que consigo - e cada dia é uma batalha - rejeito ser cúmplice da violência, empenho-me em ser um bom cristão. Trabalhador, honesto, orientado para Deus. E confiar. Confiar que se eu deixar que Ele aja em mim, Ele agirá nos outros.

in Essejota.net de Nélson Faria, sj